25 setembro, 2007 ♥ Abismático
A sensação de correntes puxando-me pelos calcanhares ao fundo do mar intensifica a cada dia. É agonizante não poder respirar, não poder enxergar nada além de vultos turvos e inexatos. Sinto o refluxo querendo me mandar de volta à superfície, mas o refluxo não tem conhecimento do tamanho da base de concreto que está preso à essas correntes, presas aos meus calcanhares. Tiro forças - sabe-se lá de onde - para mergulhar afundo e tentar arrebentar o que quer que esteja me prendendo, pouco me importa as correntes desde que consiga me soltar mas lá pela metade do percurso falta-me o ar, falto-me. Então páro e observo todos aqueles que já perderam tudo e são hipoteticamente livres, enquanto rio da minha própria situação sem poder sequer perder nada, uma vez que nada tenho além de correntes nos calcanhares.

Deveria eu ter previsto, sete anos atrás, que não teria como me livrar destas correntes quando quisesse, uma vez que o bloco de concreto tenha atingido o fundo? Deveria eu ter refeito o cálculo de medição das correntes, para que ao menos pudesse respirar? Verdade seja dita, não faria tamanha loucura por mim mesma, então acreditei que fazer por outros fosse remediar minha auto-desvalorização. Foi com este pensamento que, sem pensar duas vezes, arremessei tão abruptamente aquele maldito bloco ao abismo, acreditando ter calculado tudo corretamente e nos mínimos detalhes - mal sabia eu o quão errada estava. Quando senti que o bloco havia tocado o fundo, pensei estar realizada. Tanto fizeram por mim, agora preciso retribuir, pensei. Antes não tivesse pensado, antes não quisesse retribuir. Antes passar por ingrata do que ver - mesmo turvos - os olhos daqueles que propus tomar o lugar para libertá-los se perguntando porque havia feito aquilo, seguido por uma reprovação que jamais havia imaginado.

Foi então que percebi que não teriam feito o mesmo por mim. Fiz por amor, sem questionar e certamente não esperava agradecimentos, muito menos tão "calorosos" quanto estes. É bastante óbvio que não viram o que vi, o que previ; e o que previ foi justamente os dias atuais, engravados aleatoriamente sobre a superfície do concreto que construiu o bloco do qual hoje quero me desprender.

No instante que conseguir voltar à superfície, podendo pôr os pés no chão e embebedar meus pulmões ares e mais ares depois desses anos todos sobrevivendo somente de fagulhas de esperança, ainda sentirei que trancar a respiração e me anular por estas pessoas fora o maior erro que poderia ter cometido em toda minha existência, e que tudo fora em vão.

E nada nunca será bom o suficiente.

Mas nada é o que ainda terei a oferecer graças ao vazio que sete anos em um abismo me trouxe de vivência. É muito para quem, evidentemente, merece tão pouca gratidão apesar de todos os esforços.





Em quatro dias, estarei oficialmente desempregada. Isso não necessariamente me alegra, pra ser sincera. Primeiro passo pra fora de casa e já estou sentindo os empurrões de volta em direção à parede, mesmos empurrões de dois anos atrás. Difícil acreditar que em setecentos e tantos dias, pouquíssima coisa tenha mudado nesse aspecto, simplesmente porque parece que tenho repetido "cansei" sem parar pra dentro, e qualquer tentativa de projeção vocálica para que esse apelo se torne audível e compreensível acabou sendo em vão. Escutaram, sim, mas não deram ouvidos; muito menos percebem o mal que causam e o quanto isso machuca a (mais) longo prazo (ainda).


marion raven · surfing the sun.

Hvem jeg er
det pike!
bibiana, também conhecida por biba, bee, beebz, baderneira, bê, babe. vinte e uma primaveras, assopra dentes-de-leão dia vinte e quatro de outubro. escorpiana com ascendente em peixes, diverte-se demais com as metáforas astrológicas do horóscopo do zh. nascida e criada em santa maria (rs) mas seu local espiritual são as praias do norte da noruega. (mais em breve.)

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